domingo, 19 de maio de 2013

Coragem

(Crônica que eu li na Veja BH dessa semana escrita pela Cris Guerra, linda do www.hojevouassim.com.br ...ando meio muito sem inspiração e esse texto é um texto que eu queria  ter a autoria pois adorei ele, de forma que será ótimo até meu processo de criatividade volte). Tentarei voltar a postar mais, prometo!

"Por favor, não vá embora. Me perdoe. Vou sentir sua falta. Fica comigo. Vamos tentar de novo? Algumas frases caíram em desuso no mundo dos fortes, o mundo virtual de que somos feitos. Pôr um ponto final é sempre mais fácil - e não borra a maquiagem.

E com a poeira de aparências construímos outras sentenças mais elegantes. Tudo bem? Tudo ótimo! (Junto com a resposta, abre-se um sorriso perfeito, até que o outro desapareça e você possa abraçar de novo a sua dor.) Sorrimos padrão, aplicamos um photoshop na alma e seguimos em frente.

O problema é a frequência desse verniz disfarçando a verdade. Em determinado momento, isso passa a acontecer na vida a dois - e então perdemos a mão com o outro, não sabemos mais o caminho para tocá-lo. A vida sob o mesmo teto tem esses perigos. Proteger-se em alguns momentos parece tarefa impossível.

Eu me lembro de sofrer muito na adolescência. De amores que se acabavam sem que eu soubesse por quê. Lembro-me de cartas quilométricas escritas a mão com o sangue de um coração em pedaços. Muitas delas faziam voltar os amores, até que novos desfechos se anunciassem. Ainda trago no rosto a marca de choros intermináveis que me constituem. Mas de cada amor derramado ficava uma certeza: eu havia feito de tudo. E sempre segui adiante tendo minha paz lado a lado, mesmo que não fosse ela a companhia mais desejada. Paixão é bom, amor é lindo. Já a serenidade é como o ar. E a minha sempre veio.O que é do outro não me cabe - sua maturação ou seus enganos, selados pela falta que vou fazer ou pelos aprendizados que finalmente as paredes silenciosas se encarregarão de escrever.

O tempo nunca me faltou, com sua cura e seu alívio, cuja presença era percebida a determinado momento, sempre seguida de uma surpresa: “E não é que não dói mais?”. E, mesmo quando a morte se encarregou de interromper um dos maiores e mais intensos amores, as madrugadas me deram papel e caneta para remar. Teci meus próprios caminhos. Hoje olho para trás e os contemplo: até que eu soube seguir em frente.

Se cedo ou tarde a paz vem me fazer companhia, é porque antes me vem a coragem, esta de me abandonar e dizer: amo muito.

Nunca deixei para trás uma palavra não dita. É puro oxigênio a sensação de ter feito tudo o que estava ao meu alcance."

Beijos aos leitores ;)